segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Bonjour, Paris!
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Os informais
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Eu e meus livros - Parte 2
Então, continuando a saga dos livros iniciada no post anterior, os outros dois livros que li foram:
3) Sexo – Flávio Gikovate, 2010 (*****)
Sou suspeita pra falar deste livro que adorei. Me encanta o tema sobre relacionamentos. Quem escreve é Flávio Gikovate, um médico psiquiatra que, baseando-se em seus atendimentos no consultório e conhecimentos – mais observatórios do que técnicos – conseguiu colocar em palavras o confuso contexto sexual vivenciado pelas pessoas nos dias de hoje. A revolução sexual alcançada após a criação da pílula anticoncepcional permitiu que indivíduos considerados inferiores, como as mulheres e os homossexuais, fossem libertados da prisão psicológica sustentada por uma sociedade repressora, onde se padronizam comportamentos e se rotulam preferências. As pessoas, ditas “comuns” (ninguém é tão normal de perto), também se beneficiaram dessa tal liberdade: hoje é possível “ficar” com várias pessoas ao mesmo tempo, escolher com quem estabelecer laços, transar por diversão, dentre outras inúmeras maravilhas da modernidade. Mas, pare um pouquinho. Será que essa diversidade de relacionamentos tem deixado as pessoas mais felizes e realizadas? Para Gikovate, a resposta é não.
Analisando profundamente os diferentes fenômenos ligados à sexualidade humana, como a agressividade (sexo, por exemplo, é considerado um ato agressivo, lembrando-nos da nossa condição de animais), a vaidade e os jogos de poder envolvidos na prática da sedução, o autor escancara diversos mitos e meias-verdades, revelando, muitas vezes, de forma sincera, o que acontece nos relacionamentos atuais. Fala, por exemplo, que os mais mentirosos, egoístas e capazes de envolver o outro sem qualquer culpa são os que mais obtêm sucesso na conquista (aposto que alguém aí se identificou com essa teoria). Já aqueles mais generosos, preocupados em não ferir os parceiros, sentem-se inferiores por não ter coragem de agir de forma inescrupulosa. Invertem-se totalmente os valores! Como lidar com isso? Relativizando a importância do desejo e buscando parceiros com que tenhamos mais afinidades de sentimentos e idéias.
Também discute a idéia de que sexo e amor são dois impulsos autônomos e independentes (em outras palavras, se seu(sua) namorado(a) traiu você, não significa que ele(a) não gosta de você); e que desejo e excitação são sentimentos bem diferentes (o primeiro é elitista, baseados em elementos de uma sociedade de consumo; a segunda constitui um prazer democrático, alcançado por todos). Assim, Gikovate propõe que reconsideremos essa louvação atual do desejo, já que ele está a serviço da valorização do sexo casual (não acredito em mulheres que dizem gostar de sexo sem envolvimento emocional, nosso estímulo, infelizmente, vai muito além do visual), da preservação do egoísmo e da imaturidade emocional – tudo aquilo que as pessoas vêm tentando se livrar desde os tempos mais remotos. Este livro é uma conversa, dividido em capítulos por assunto, mas sempre em tom casual de como se estivéssemos frente a frente com o autor. Um livro que abre a cabeça para a aceitação de um novo ponto de vista, permitindo com que analisemos as nossas relações e o modo como lidamos com as pessoas. Muito bom! Resta a minha dúvida: Seriam esses aspectos biológicos ou circunstanciais? Bom, no final das contas, só queremos ser felizes mesmo. Cada um a seu modo, é claro.
4) O Alquimista – Paulo Coelho, 1988 (***)
Este livro fazia parte da montanha de livros que deixei para depois, como tantos outros títulos do Paulo Coelho que tenho em casa e ainda não li. Eu lembrava vagamente de dois livros dele, O demônio e a Srta. Prym e Veronika decide morrer, que li há muitos anos e os quais eu gostei, mas que não tive grandes reações ao terminá-los (tem livro que ficamos tristes porque acabam, né?). O Alquimista é um livro curioso, porque fala dos mistérios envolvendo a Alquimia, esse mundo tão obscuro e, portanto, muito interessante de se descobrir. A história é contada tendo como personagem principal um jovem pastor de ovelhas chamado Santiago que, após um sonho repetido, no qual havia um tesouro escondido nas Pirâmides do Egito, resolve largar tudo para seguir este caminho. Durante sua longa jornada, Santiago aprende com os detalhes vividos a cada dia, passando pelas agruras do deserto, vivendo num oásis e entrando em contato com um tipo de “linguagem universal” percebida por todos os seres vivos, chamada a “Alma do Mundo” (Talvez seja aquilo que consideramos ‘intuição’, que nos faz ponderar que tipo de atitudes tomar diante de situações após analisarmos o ambiente e as reações das pessoas, ou mesmo, a relação que temos com um cachorro – que não fala, mas que conseguimos conviver como se fosse uma criança, sabendo suas necessidades e até mesmo seu humor).
Também descobre a sua “Lenda Pessoal”, aquilo que cada um nasceu para fazer e viver, mostrando o quanto é possível seguir (literalmente) um sonho e ter sucesso com isso, e que ninguém consegue ser de todo feliz, enquanto esse objetivo não estiver cumprido. Outros conceitos, como os sinais de Deus e a Grande Obra (conhecida pela lenda dos homens que transformavam metal em ouro), também são abordadas de forma bem fácil de entender. Com diversas pequenas lições entrelaçadas pela vida dos personagens, O Alquimista é um livro pra se ler embalando na rede. Não só por ser leve, de linguagem simples e direta, mas também pelos ensinamentos que nos fazem prestar atenção ao que se passa ao nosso redor, muito além do que vemos.
Bom, esses foram os que terminei. Ainda estou muito apaixonada pelo meu – acredite – Budismo para Leigos (ando numa busca espiritual constante, é muita religião pra restringir o que penso em uma só), mas também comecei Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Novas resenhas estarão por aqui, em breve.
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segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Eu e meus livros
“E agora que estou livre de todas as obrigações oficiais, sinto-me atraído pela idéia de usar meu tempo e humor para, num dia desses, escrever um livro – ou antes, um livrinho, uma coisinha para os amigos e aqueles que partilham do meu ponto de vista. O assunto não terá a menor importância. Será apenas um pretexto para que eu me isole a fim de gozar a felicidade de ter tempo de lazer. O importante mesmo será o tom, que deverá estar entre o solene e o íntimo, entre o sério e o brinquedo, um tom que não seja de instrução, mas de conversa amigável sobre as várias coisas que aprendi...”
Quem escreveu essas palavras foi Magister Ludi, personagem central do livro de Hermann Hesse O jogo das contas de vidro. Este trecho me fez lembrar que, há muito, não escrevo um texto. Não por falta de idéias, muito pelo contrário. Às vezes, as idéias pululam na minha mente, inquietas, mas juntá-las ainda não havia se tornado objetivo principal em nenhum dos dias que se passaram. Procrastinação crônica, a mania de deixar as coisas para depois. Na verdade, havia um misto de falta de tempo com a necessidade de me manter mais reservada. Você sabe, nossos escritos não deixam de ser parte do nosso eu (apesar de muitas vezes me inspirar em relatos dos outros na construção de uma história). As pessoas tendem a relacioná-los com nossa vida íntima, o que constitui a parte chata do gostar de escrever. Mas faz parte. Nenhum prazer é de todo positivo. Sempre há um lado duvidoso.
Pois bem, hoje, em virtude de um dedo batido, consegui uma manhã de folga em que me senti livre para fazer o que quiser. Eu havia pensado, numa dessas viagens que tenho feito à São Paulo, que talvez fosse uma boa idéia registrar os livros que leio, já que sou uma leitora um tanto caótica. Começo vários livros ao mesmo tempo. Tem o que gosto de ler de noite, antes de dormir, o que leio durante a viagem, aquele que leio numa tarde de domingo, e por aí vai. Mas é verdade que, quando o livro é muito prazeroso, acaba por monopolizar todo meu tempo livre. Livraria, então, é perdição. Vivo comprando livros que deixo pela metade e se amontoam na cabeceira da cama. Hei de terminá-los, após mais uma promessa de fim de ano de que irei terminá-los.
Até onde lembro, li quatro livros inteiros este ano, os quais irei descrevê-los a seguir, emitindo suas sinopses e opinião pessoal de mera leitora de livros sem status algum. A quantidade de asteriscos indicam, em uma escala de 1 a 5, o quanto gostei de ler estes livros. Espero que gostem. E se vocês leram, ou lerem em seguida, vamos discuti-los!
1) A Pequena Abelha - Chris Cleave, 2010 (***)
Livro do inglês Chris Cleave que me chamou atenção pela falta de sinopse (curiosidade à mil, é claro). Na capa, apenas a figura de uma mulher e inúmeros elogios de jornais reconhecidos internacionalmente (A propósito, quero ressaltar que não tenho preconceito pelos livros populares. Acho que cada escritor é igualmente artista como qualquer outro). O livro é narrado em primeira pessoa pelas duas personagens principais, a jornalista britânica Sara, editora-chefe de uma revista feminina, viúva e mãe de Charlie, um garoto de quatro anos que só se veste de batman; e a adolescente nigeriana refugiada, “Pequena Abelha”, que adota o codinome do inseto que fabrica o mais doce dos alimentos como forma de sobreviver a amargura da existência no limbo da civilização. Sem documentos e recém-saída de um centro de acolhimento para refugiados, a jovem oscila na fronteira entre dois mundos: a África, para onde não pode voltar, e a Europa, que não a quer. A história adquire forma dramática pelo mistério que une a vida das duas personagens durante todo o percurso do livro. Revelado aos poucos por flashbacks,uma fatalidade e uma decisão extrema tomada por uma delas nos faz refletir sobre até onde somos capazes de abrir mão de nosso próprio conforto em prol do outro. Na minha humilde opinião, é um livro fácil de ler, emocionante, que vale a pena ser lido.
2) Precisamos falar sobre Kevin – Lionel Shriver, 2007 (*****)
Sabe quando você termina um livro, fecha e pensa: Li um livro do caralho? Pois é! Isso aconteceu quando fechei Precisamos falar sobre Kevin. Adoro livros verídico-ficcionais, que mostram a verdade com personagens irreais. Ainda lembro-me da época em que o comprei: Wellington Menezes de Oliveira havia recentemente realizado o crime mais brutal já ocorrido numa escola do Brasil, abrindo fogo contra os alunos da 8ª série do Colégio Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, em um episódio que resultou na morte de 12 crianças. Todos os noticiários e revistas, chocados com a atrocidade de um crime feito por alguém sem antecedentes criminais, buscavam explicações sobre os porquês deste acontecimento. Estudiosos da mente traçavam o perfil do assassino na tentativa de justificar as mortes dessas crianças inocentes. Esquizofrenia? Bullying? Depressão? Psicopatia? Em vão. O assassino estava morto e só o que restou foram os pais desolados, sem os filhos, e uma sociedade doente, sem explicações. A história de Kevin é parecida.
Kevin Katchadourian é um garoto de 16 anos autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio dos subúrbios de Nova York. A descrição dos acontecimentos, no entanto, não é dada sob a visão do assassino, e sim, da mãe, Eva, através de uma sucessão de cartas escritas a um pai ausente. Nelas, ao procurar os porquês, Eva constrói uma meditação sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro. Com uma descrição minuciosa de detalhes, a mãe do assassino relata lembranças de seu relacionamento com Franklin, o pai, um americano padrão (e que pais um dia saberiam que seu filho se tornaria um monstro?). Reexamina todos os seus passos: desde o medo de ter um filho ao parto do bebê indócil que assustava as baby-sitters. Mostra o garoto maquiavélico que dividia para conquistar. Exibe o adolescente que deixava provas de péssima índole e também a felicidade de ter, depois do primogênito, uma filha desejada e amável.
Exilada em memórias ainda mais tenebrosas que textos de matérias e imagens de documentários, Eva Katchadourian dá vida a detalhes sórdidos da trajetória familiar com uma escrita magnética. Sacudindo o leitor entre a culpa e a empatia, retribuição e perdão, este livro discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há com culturas e sociedades contemporâneas que produzem assassinos mirins em série, como os EUA. É um thriller psicanalítico (adoro) onde não se pergunta quem matou. Revela quem e o que morreu, enquanto uma mãe moderna tenta encontrar respostas para o tradicional ‘Onde foi que eu errei?”. É quase impossível largar este livro. Sem dúvida, o melhor que li este ano. Atual, crítico, sincero, que nos faz pensar meses e meses depois de deixá-lo.