sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os informais



Ai, esse universo do comércio informal. Na esquina, um bombonzeiro, um sapateiro, um vendedor de castanhas e uma banca de revistas. Entre um quiosque e outro, quatro homens jogam dominó em uma mesa improvisada. Eu queria apenas consertar um sapato e uma bolsa, mas hesitei. Onde estaria o sapateiro? Logo, três homens da mesa me notam, menos um: o dito-cujo. Fumando um cigarro e me olhando de canto, ele se vira e analisa o sapato. O jogo parou. Espero enquanto ele corta a sola, dando um trago entre a troca de um instrumental e outro, e me lembro que só tenho uma nota de 50 reais na bolsa. Me dirijo à banca, e mais um desfalque acontece na roda dos rapazes. O vendedor de revistas logo ocupa o outro lado do balcão. Ô moça, tu só queres trocar o dinheiro é? Não tenho trocado não, mas pergunta ali "pro da castanha", acho que ele troca. O da castanha já havia levantado para vender rosquinhas para uma senhora e trocou, a contragosto, a minha nota. O sapato ficou pronto. A bolsa, moça, eu não faço aqui. Mas e o cara do relógio, pergunto eu, será que ele não solda essa alça pra mim? Não, ele não faz esse tipo de serviço. Faz o seguinte, atravessa a rua, tá vendo aquele cara ali na loja dos carros? (Olho para a outra esquina e vejo um mecânico magrelinho embaixo de um carro). Vai lá, acho que ele faz pra ti. Opa, o sinal ficou verde. Corro e em segundos já estou conversando com o magrelinho. Nossa solda é só pra carros, moça, mas acho que eu posso fazer uma maracutaia aí pá ajeitá pá tu. Furo com uma furadeira, coloco um breguenight de plástico que uso em carro, vai ficar filé. Pô, beleza, então. Cobra quanto? Não moça, que isso (e agora olhando para todos os lados), não posso cobrar por esse tipo de serviço, não. É que eu num faço isso aqui na loja, entende? (tenso). Tudo bem moço, quer dizer, como é seu nome mesmo? Miguel. Ah sim, então Miguel, eu vou deixar a bolsa aqui e amanhã tu me entregas na hora do almoço. Pode ser? Te dou 10 reais pela ajuda. Não precisa não, moça. Deixa aí que eu conserto na amizade. Deixo a bolsa, atravesso a rua novamente, onde o jogo de dominó já havia recomeçado. Agradeço a todos pela a ajuda (em outras palavras, desculpa aí por ter colocado todo mundo para trabalhar) e penso seriamente em repor meu estoque de Trident's melancia, mas acho que desfalcar também o bombonzeiro do jogo seria abusar da gentileza. Volto no dia seguinte: e não é que o mecânico consertou a bolsa? Pago os 10 reais como se estivesse passando bagulho por debaixo dos panos. O mecânico finge não querer por uma fração de segundos, mas aceita. Volto pra casa, enfim, de bolsa e sapatos novos.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Amiga, como vc consegue transformar coisas simples e cotidianas em algo tao divertido e interessante de se ler? Vc escreve muito bem!!
Ass Letícia Duarte